Publicado em 12/11/2025 às 10:00, Atualizado em 12/11/2025 às 17:09

Nova Andradina chora partida da professora Aladir de Biasi, que ensinava mais do que conteúdos didáticos, dava lições de fé e humanidade!

Márcio Rogério, membro da equipe do Nova News, que passou pela sala de aula de Aladir há cerca de 40 anos, fez um relato emocionante sobre sua experiência com ela

Acácio Gomes, Redação Nova News
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Professora aposentada afirmava que sentimento por tudo o que viveu era de extrema gratidão - Imagem: Acácio Gomes / Nova News / Arquivo de 2019

“A noite desse dia 11 de novembro de 2025 deixou Nova Andradina triste em decorrência do falecimento de uma das pessoas mais brilhantes e que ajudou a edificar a história dessa cidade, construindo um caráter especial nos alunos que pela sala dela passavam. Fui aluno da professora Aladir de Biasi há cerca 40 anos, nem sei ao certo, mas, o que eu sei é que as marcas daquilo que ela ensinava me acompanharão para sempre. Além dos conteúdos didáticos, ela dava lições de humanidade!

Mesmo depois que passei pelas séries iniciais, sempre tive um bom relacionamento com ela. Sempre que a encontrava, eu a abraçava e a acariciava. Inclusive, nos últimos anos, sempre a visitei toda vez que tive oportunidade de estar perto dela, em Nova Andradina, manifestando minha gratidão.

As aulas dela eram diferentes! Além de aprender a ler e a escrever, além do conteúdo didático em si, com ela, aprendemos lições de humanidade e de fé. Ela fazia questão de cantar algumas músicas, dentre elas, as canções de Padre Zezinho, ‘Amar Como Jesus Amou’ e ‘Um Certo Galileu’, sendo que, esta última eu guardo no meu coração até hoje, pois, foi a forma pela qual eu aprendi a conhecer Jesus.

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Márcio Rogério, que foi aluno de Aladir, sempre dedicou a ela muito carinho e fez questão de homenageá-la nesse momento de despedida - Imagem: Arquivo Pessoal

Certamente, em Nova Andradina, muitas outras pessoas que passaram pela sala de Aladir de Biasi vão se identificar com esse relato, com essas canções, com esse jeito de dar aula. Ela foi uma professora diferente! Com todo o respeito às demais, mas, Aladir conseguiu deixar marcas eternas, pois, ela não era professora apenas dentro da sala de aula. Ela nos ensinava a sermos pessoas de bem na sociedade e em tudo o que gente se propusesse a fazer. Isso é algo admirável!

Ao mesmo tempo em que meu coração está triste pela sua partida, ele se alegra por ter conhecido uma das mais brilhantes almas que passaram por Nova Andradina.

Minha eterna gratidão à professora Aladir de Biasi, que fez diferença na minha vida, inclusive, no período em que perdi meu pai, eu poderia ter procurado outras referências, mas, a professora Aladir apareceu e me estendeu a mão. Jamais a esquecerei” - palavras do ex-aluno (eterno aluno) de Aladir e membro da equipe do Nova News e da Rede Novo Tempo de Comunicação, Márcio Rogério, atualmente residente em Campo Grande.

Quem é Aladir?

O jornalista Acácio Gomes, do Nova News, teve a oportunidade de entrevistá-la em 2019 para uma matéria especial do Dia do Professor e, dessa conversa, foi possível obter, nas próprias palavras dela, um pouco da história dessa mulher notável na história de Nova Andradina.

Aladir Siani de Biasi, 86 anos, é alguém que dedicou sua vida à formação e à educação, atuando em várias escolas de Nova Andradina por mais de três décadas. Para ela, a educação, antes de ser uma profissão, devia ser vista como um dom muito especial.

Aladir, que tinha estudado, naquele tempo, até a 8ª série, veio de Santo Anastácio (SP) em 1967 para atuar como professora na Escola Antônio Joaquim de Moura Andrade. “Meu esposo, Paulo de Biasi, trabalhava, na época, com venda de produtos agrícolas e decidimos nos mudar para Nova Andradina. Graças a uma amizade com a direção da escola, cheguei à cidade já empregada”, contou ela naquela entrevista.

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Aladir, quando se formou na 8ª série - Imagem: Reprodução

A professora revelou que a primeira vez que entrou em uma sala de aula para lecionar foi no dia 01 de março de 1967. “Foi um dia inesquecível, que marcou minha vida para sempre”, afirmou ela, ao contar que dava aula durante o dia e seguia com seus estudos à noite, buscando completar sua formação.

“Ser professora sempre foi um sonho para mim. Quando criança, eu brincava de dar aula para minhas bonecas em casa. Chegar a Nova Andradina e conseguir realizar este sonho foi uma conquista muito significativa para minha vida”, revelou Aladir.

Ela afirmou que em sua trajetória profissional atuou como professora por 13 anos na Escola Moura Andrade e na Escola Marechal Rondon que, na época, era uma extensão da Moura Andrade, além de lecionar por 18 anos na Escola Austrílio Capilé Castro, até se aposentar, em 1998.

Aladir ainda foi coordenadora da Escola Capilé por oito anos, teve passagens pela Escola Padre Anchieta e pelo extinto Colégio das Irmãs e atuou como catequista também por 31 anos, trabalhando na formação cristã da comunidade católica de Nova Andradina.

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Aladir de Biasi ao se formar professora em 1972, juntamente com colegas da turma e ao lado de figuras como o prefeito da época, Décio Azevedo; o paraninfo na ocasião, ex-prefeito Alcides Menezes de Faria; e o Irmão Braz Sinigáglia - Imagem: Reprodução

“Foi um período muito gratificante, mas também de vários desafios. Nem sempre foram flores, mas no final de tudo posso garantir que valeu a pena. É bom demais saber que muitos advogados, médicos, professores e outros profissionais que atuam na cidade um dia foram meus alunos. É uma sensação de dever cumprido”, contou ela naquela ocasião.

Sobre seu método de ensino, Aladir de Biasi revelou que foi uma professora bastante exigente. “Eu sempre dei muito valor à disciplina e ao respeito. Na época, muitos alunos me achavam rígida demais, mas, hoje, ao ver que a maioria deles se tornou cidadãos de bem, que têm suas profissões e constituíram suas famílias, tenho a certeza de que fiz a coisa certa”, disse ela durante a entrevista, com bastante convicção.

“Minha formação foi marista, então além de ensinar os conteúdos, eu buscava transmitir algo a mais para meus alunos. Por exemplo, toda sexta-feira, até a hora do recreio, eu dava a eles atividades de redação, caligrafia e desenho, já depois do recreio, eu fazia com as crianças atividades mais leves. A gente cantava músicas que transmitiam mensagens de fé e de esperança, entre elas destacavam-se as canções do Padre Zezinho, em especial ‘Um Certo Galileu’ que marcou muito tanto a minha vida quanto as vidas dos estudantes, tenho certeza disso”, afirmou.

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Nesta foto, a professora Aladir aparece com uma das turmas para a qual lecionava no antigo Colégio Santo Antônio - Imagem: Reprodução 

Aladir acreditava que o professor não deve ser aquele personagem que apenas ensine os conteúdos aos alunos, mas sim uma figura que seja luz, que seja referência de amor a Deus e às pessoas. “Professores, façam tudo com amor, sem esperar recompensa ou reconhecimento. Ser professor, antes de ser uma profissão é um dom. Exerçam este dom com carinho e recompensa virá das mãos do Nosso Senhor”, disse ela.

Nas palavras da professora aposentada, não era raro ela estar na fila de um supermercado ou na rua e ser abordada por pessoas que foram seus alunos e que querem lhe dar um abraço. “É impossível lembrar de todos, afinal de contas, foram inúmeras turmas ao logo de 31 anos, mas, mesmo assim é muito bom receber este abraço, este carinho e saber que sou importante na vida daquela pessoa. Isso não tem preço”, disse Aladir, emocionada.

Naquela matéria especial do Dia do Professor, Aladir de Biasi resumiu sua trajetória em uma palavra: realização. “Sou uma pessoa muito realizada e feliz. Com o apoio do meu esposo, que é meu grande parceiro, dei minha contribuição para com a sociedade e fiz o meu melhor. Se pudesse... faria tudo de novo com certeza. E para os professores da atualidade, que enfrentam muitas dificuldades e muitas vezes até o desrespeito por parte de alguns alunos, deixo uma frase que resume a vida de Santa Terezinha do Menino Jesus: ‘Nada é pequeno onde o amor é grande’, finalizou a professora naquela oportunidade.

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Na ocasião da entrevista concedida em 2019, ao lado do esposo, Paulo de Biasi, Aladir disse que se sentia realizada e revelou que o apoio do companheiro em todos os momentos foi algo fundamental - Imagem: Acácio Gomes / Nova News / Arquivo de 2019

Despedida

Aladir Siani de Biasi, faleceu, nesta terça-feira (11), aos 86 anos, em decorrência de problemas de saúde. A despedida aconteceu no Velório Municipal e o sepultamento foi realizado nesta quarta-feira (12), no Cemitério Municipal Santa Bárbara. 

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