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O Lanchão em Vertigem: chega ao fim quatro décadas de histórias, paixões e democracia

De “A” a “Z”, bar se caracterizou como um dos ambientes mais tradicionais e democráticos da “Cidade Sorriso”

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O bar está cravado há 40 anos no cruzamento da Avenida Antônio Joaquim de Moura Andrade com a Rua Juscelino Kubitschek de Oliveira - Imagem: José Almir Portela/Nova News

Por abrigar os mais diferentes públicos, o nome deveria ser “O Democrata”, todavia, soaria “gourmet” demais para quem frequentava a Avenida Antônio Joaquim de Moura Andrade há 40 anos. Além disso, a palavra ainda não era tão popular no comecinho da década de 80, em um país que só voltaria a eleger um presidente democraticamente em 1989.

Reduto de engraxates, políticos, empresários, trabalhadores rurais, fofoqueiros, profissionais liberais, desempregados, sonhadores...Assim se fez “O Lanchão”, que fecha as suas portas neste sábado (22) após quatro décadas de muitas histórias, paixões e, sobretudo, de muita democracia.

A República

“É, José. O mundo anda aos contrários”, diria um dos frequentadores. “Pois é, você viu o William Bonner apresentando o Jornal Nacional de barba?”, indagaria outro, antes de ser interpelado por um rapaz de camiseta vermelha: “isso te revolta? O que me revolta é ver pessoas morrendo de Covid por culpa desse governo negacionista e antivacina”.

Mais um bate-papo comum naqueles metros quadrados enquanto, na TV, algum jogo de futebol entretém ávidos torcedores. O futebol, aliás, foi outra marca de “O Lanchão”, cujos donos são palmeirenses de carteirinha, mas abrigavam são-paulinos, flamenguistas, santistas e, principalmente, corintianos.

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Imagem: Arquivo/ Donizete Foto

O Banquete

Cravado na principal avenida de Nova Andradina, na esquina com a Rua Juscelino Kubitschek de Oliveira, área nobre da cidade, o espaço manteve a tradição de bom atendimento e simpatia desde a fundação, em 19 de agosto de 1981, por iniciativa de Augusto Vicente Pereira.

Ao lado da família, ele já atuava no setor, no antigo Líder Bar, quando adquiriu o Bar Lanches Nova Andradina, sem se importar, a princípio, de mudar a “cara” do local. Os clientes, no entanto, deram à verve democrática do empreendimento. Sim, foram eles que sugeriram o nome “O Lanchão”, soberania exercida pelo povo. Clístenes ficaria orgulhoso.

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Dona Josefa e dona Cida - Imagem: José Almir Portela/Nova News 

Empieza el matriarcado

Todavia, tal qual em uma monarquia, cuja sucessão do poder é hereditária, restou a Maria Aparecida Pereira de Oliveira, a “Dona Cida do Lanchão”, assumir o trono. A monarca mais longeva da história de Nova Andradina. Seria ela nossa Elizabeth II? Seria “O Lanchão” uma monarquia parlamentarista, contradizendo toda narrativa desse texto? Não sabemos.

O certo é que esse posto foi concedido por um diferencial. Dona Cida era a única que sabia ler e escrever entre os irmãos. Com isso, a matriarca assumiu toda a burocracia do empreendimento tendo o apoio de outros familiares, que aos poucos se desgarraram para outros reinos.

Mauro Vicente Pereira, seu irmão, o “Mauro do Lanchão”, lutou até o fim. Por noites e madrugadas adentro, viu de tudo um pouco e pode, porque não (?), ser considerado como uma espécie de cavaleiro/primeiro-ministro dentro desse sistema agora abstruso, de difícil compreensão para nós, reles plebeus.

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Imagem: José Almir Portela/Nova News

Fédon

Mas e as razões para o fim de um reinado tão próspero? O peso de uma vida dedicada em servir. Dona Cida até possuía a opção de compra do prédio. Mauro, depois de uma cirurgia no coração, seguiu o exemplo dos sábios jogadores que assistia pela TV e viu que chegara a hora de pendurar as chuteiras.

Sim, a pandemia contribuiu e talvez tenha adiantado a edição desse decreto real, mas o legado ficará e será lembrado em uma justa homenagem no próximo sábado, em live que será transmitida pelo Facebook e YouTube dos canais Nova Andradina TV (@NovaAndradinaTV), com a organização de Os Movidos.

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