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"Insegurança. Brasil refém das facções criminosas", por Sargento Betânia

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Imagem: Divulgação

A escalada do crime organizado no Brasil já não é uma previsão alarmista, é uma realidade que bate à porta de cada cidadão, da capital ao interior. Enquanto o Estado se perde em discursos e comissões, as facções criminosas se organizam, se estruturam e dominam territórios. É a velha máxima, onde o Estado se ausenta, o crime ocupa.

Em El Salvador, o presidente Nayib Bukele enfrentou o problema de frente. Criou uma política de Estado, e não de governo, para sufocar o poder das gangues. A construção de megapenitenciárias, o endurecimento penal e o rompimento com o discurso do “pobre coitado” que virou criminoso por falta de oportunidade, reduziram drasticamente os índices de homicídios e devolveram a sensação de segurança à população. Lá, o Estado retomou o controle. Aqui, seguimos reféns.

O reflexo da ausência de uma política séria contra o crime é visível em cada esquina. O tráfico de drogas, verdadeiro motor da criminalidade, gera uma sequência de tragédias sociais. Aumenta a população em situação de rua, multiplica os becos e vielas dominados por “bocas de fumo”, eleva os furtos de fios, arrombamentos de casas e até desvaloriza imóveis em bairros inteiros.

Um exemplo gritante está em Campo Grande (MS), a antiga rodoviária, outrora ponto de encontro e mobilidade, hoje se transformou num retrato da decadência urbana. A região do Nhá Nhá virou cenário de degradação humana e social, onde o tráfico e o abandono se entrelaçam. E o poder público? Limita-se a varrer a sujeira de um lado para vê-la reaparecer do outro. Faltam centros de recuperação, especialmente voltados a mulheres e adolescentes, e sobram discursos vazios sobre “inclusão social”.

Enquanto isso, as forças policiais, que são o escudo da sociedade, lutam uma guerra desigual. Falta efetivo, sobram ordens, faltam equipamentos modernos, sobram riscos. Em muitos estados, a proporção entre policiais e habitantes é vergonhosa, e o investimento em tecnologia e inteligência é quase inexistente. É como enviar um soldado com uma lanterna para combater um exército com mísseis.

Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com base em informações oficiais das Secretarias Estaduais de Segurança Pública, a criminalidade voltou a crescer a partir de 2023 em diversos estados. Houve aumento de 6,7% nos furtos e 4,5% nos roubos em relação ao ano anterior, além do crescimento dos homicídios em 14 das 27 unidades federativas. O levantamento também evidencia a expansão territorial das facções criminosas, sobretudo no Nordeste, onde os índices de violência letal subiram acima da média nacional.

E, em meio a esse caos, ainda há quem critique a ação policial, esquecendo que por trás da farda há um ser humano, pai, mãe, filho, gente que arrisca a própria vida para proteger desconhecidos. Fica a pergunta: quanto você cobraria para colocar sua vida em risco por terceiros? Essa é a realidade dos Policiais no Brasil, mal pagos, mal equipados e ainda julgados por fazerem o que muitos jamais teriam coragem de fazer.

A impunidade, por sua vez, é o adubo do crime. Quando o criminoso percebe que o sistema é falho, que leis frouxas e decisões lenientes o beneficiarão, ele não teme, ele se encoraja. O resultado é uma sociedade acuada, prisioneira dentro de muros e grades, enquanto o bandido caminha livre, debochando das instituições.

O Brasil precisa urgentemente de uma política de Estado, não de promessas eleitorais, para enfrentar o crime organizado. Precisa de leis firmes, sistema de justiça funcional e investimento real na segurança pública. Do contrário, seguiremos assistindo, de dentro de nossas casas gradeadas, à consolidação de um império paralelo, onde o crime dita as regras e o cidadão honesto paga a conta. 

Por Sargento Betânia - Especialista em Segurança Pública.

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