Publicado em 07/03/2020 às 16:43, Atualizado em 07/03/2020 às 21:05

Mulheres policiais: Sensibilidade e bravura no cumprimento da lei

Nova News conversou com três personagens que decidiram ingressar nas fileiras do serviço policial, mostrando que lugar de mulher é onde ela quiser

Acácio Gomes, Redação Nova News
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Soldado Geovana (8º BPM) / Delegada Daniella (DAM) / 3º Sargento Aretuza (PMR) Imagens: José Almir Portela / Acácio Gomes / Acácio Gomes - Nova News

Mesclar a sensibilidade - qualidade inerente ao universo feminino - e a bravura - requisito indispensável na hora de se fazer cumprir a lei - é algo que faz parte do cotidiano das mulheres que optaram em se tornar policiais.

Em alusão do Dia Internacional da Mulher, celebrado neste domingo, 08 de março, o Nova News conversou com três personagens que decidiram ingressar nas fileiras do serviço policial, mostrando que lugar de mulher é onde ela quiser.

Na PMR 

Aos 45 anos, Aretuza Osti de Oliveira, natural de Cáceres (MT), é 3º sargento na Polícia Militar Rodoviária (PMR), onde atua há cerca de quatro anos, porém, sua carreira militar é bem mais extensa, uma vez que ela é policial há 27 anos, contando com passagens pela Polícia Militar em Campo Grande e Nova Andradina, bem como atuação no Departamento de Operações de Fronteira (DOF). Atualmente trabalha na Base Operacional da PMR localizada na MS-134, entre as cidades de Nova Andradina e Batayporã.

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Aretuza diz que ama sua profissão e que a aproximação de sua aposentadoria a preocupa - Imagem: Acácio Gomes / Nova News

Divorciada e mãe de duas filhas, uma de 13 e outra de 25 anos, ela afirma que desde a infância é fã da polícia. “Quando criança, em viagens com meu pai, eu o fazia parar nas bases policiais para pedir informações, mesmo que gente já soubesse o caminho, só para que eu pudesse estar mais perto daqueles pelos quais eu sempre nutri muita admiração”, revela.

Aretuza afirma que uma das grandes dificuldades na vida de uma policial é conciliar a vida pessoal com a profissional. “Devido às escalas de trabalho já passei Dias das Mães longe das filhas, teve aniversário de filha que eu não pude estar presente, entre outras datas especiais, como Natal e Ano Novo, por exemplo. Como mulher, como mãe, isso é muito difícil, mas a paixão pela profissão faz valer a pena, afinal de contas, quando eu decidi entrar para a carreira militar já sabia que seria assim”, explica.

Sobre possíveis episódios de preconceito que porventura tenha enfrentado, ela revelou que foi a primeira policial feminina atuar na região, na época, trabalhando no 8º Batalhão de Nova Andradina. “Foi uma luta para sentar no banco da viatura, não por preconceito dos colegas de trabalho, mas por reações não muito positivas das esposas deles. Até então eram apenas homens nas viaturas, de repente uma mulher se junta a eles... Isso causou ciúmes, mas depois elas me conheceram melhor e viram que sou ‘café com leite’, que não gosto de ‘mi mi mi’ e não aprecio conversa fiada”, disse Aretuza.

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A farda azul petróleo está no sangue, afirma ela - Imagem: Acácio Gomes / Nova News

Questionada sobre como encara o duro trabalho nas rodovias do Vale do Ivinhema, Aretuza diz que bravura e coragem são fundamentais, porém, confessa que a PMR a ensinou a enxergar com sensibilidade a fragilidade da vida. “Como policial rodoviária a gente constantemente presencia graves acidentes, muitos deles com vítimas em óbito. Cenas assim são sempre muito marcantes e mexem muito com a gente. A vida é véu muito frágil e pode se rasgar a qualquer momento”, pontua.

Nas palavras dela, ser policial é uma vocação pela qual ela tem muito amor. “A farda azul petróleo está no sangue. Eu respiro polícia 24 horas. Amo minha profissão”, afirma, ao dizer que o fato de saber que deverá se aposentar dentro de três anos, quando completa três décadas de atuação, a preocupa. “Quando a aposentadoria chegar não sei o que vou fazer”, diz ela em tom bem humorado.

Sobre uma mensagem às mulheres que sonham em ser policiais, ela afirma que é preciso encarar todos os desafios. “Nunca desista de seus sonhos. Não tenha medo. Se for preciso, suba o morro e puxe a fila. Ninguém é incapaz. Acreditar em nós mesmas já é 50% do caminho que conduz à vitória”, finaliza.

Na DAM

Se deparar constantemente com casos de violência doméstica, violência sexual, opressão psicológica e outros tipos de abusos enfrentados pelas mulheres faz parte da profissão escolhida por Daniella de Oliveira Nunes, de 36 anos, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (DAM) de Nova Andradina.

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Daniella explica que procura conciliar vida pessoal e profissional da forma mais harmoniosa possível. O quadro de sua família na parede de seu local de trabalho é uma prova disso - Imagem: Acácio Gomes

Casada, mãe de um filho de quase quatro anos e natural de Presidente Venceslau (SP), a delegada atua há seis anos à frente da DAM, afirma que ama sua profissão e que se sente realizada em poder ajudar as mulheres que têm seus direitos violados, muitas vezes por aqueles que deveriam cuidar delas e protegê-las.

Além da Delegacia de Atendimento à Mulher, Daniella também colabora com a Polícia Civil em outras áreas, sempre que necessário, cobrindo plantões na 1ª Delegacia de Nova Andradina. Ela conta que já atuou junto à Seção de Investigações Gerais (SIG) e também já trabalhou esporadicamente nas delegacias de Batayporã e Taquarussu.

“Sempre gostei da área policial. É muito gratificante servir ao próximo e, sendo delegada, eu posso fazer isso. A situação da violência contra a mulher é muito complexa. Entendo que preciso oferecer um apoio o mais humanizado possível às vítimas, mas ao mesmo tempo, encarar as situações como autoridade que sou”, explica.

A delegada contou ao Nova News que fatos marcantes, tanto negativos quanto positivos, fazem parte de sua rotina. “Às vezes fico chocada ao me deparar com certas situações de violência contra as mulheres. Sendo mulher, procuro me colocar no lugar delas e agir por elas no cumprimento da lei. Por outro lado, o carinho que a gente recebe das pessoas, especialmente das crianças, é algo muito forte e me dá forças para seguir em frente”, revela.

Questionada sobre algum tipo de preconceito que possa ter vivenciado, Daniella disse que teve sorte. “Sempre fui muito respeitada dentro e fora da Polícia Civil. Somos uma grande família e jamais me senti diminuída ou inferiorizada. Acho que tive sorte. Se houve um dia algum tipo de discriminação confesso que não percebi”, conta ela.

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Titular da DAM afirma que é apaixonada pela investigação e agradece o apoio de sua equipe - Imagem: Acácio Gomes / Nova News

A delegada diz que uma das dificuldades em sua carreira é conseguir conciliar a vida pessoal com a profissional. “Sou esposa, sou mãe e às vezes preciso estar ausente em momentos especiais para aqueles que amo, mas por outro lado, quando se faz aquilo se gosta, tudo se ajeita”, explica.

Daniella revela que procura conciliar as tarefas profissionais com a vida pessoal. “Se preciso participar de algum ato na delegacia e se posso levar minha família, eles vão comigo. Também procuro levar os colegas de trabalho para o convívio com meus familiares. Desta forma, a gente consegue fazer uma integração legal”.

Para as mulheres que sonham em atuar na esfera policial, a delegada reforça que é uma profissão maravilhosa. “É uma grande realização pessoal. Se vocês, mulheres, têm este sonho, como eu também tive um dia, lutem, corram atrás deste objetivo e conquistem o lugar de vocês”.

Já para aquelas que vivem em situação de violência, Daniella as orienta a terem força. “Vençam o medo e peçam ajuda, pois infelizmente muitas situações não chegam ao nosso conhecimento. Vocês merecem ser felizes e vitoriosas. Contem comigo... precisando, estou aqui”, concluiu.

No 8º BPM

Aos 27 anos, solteira, a soldado Geovana dos Santos, que atua na Rádio Patrulha do 8º Batalhão da Polícia Militar (8º BPM) de Nova Andradina, é outra personagem que sente orgulho de sua profissão.

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Soldado Geovana dos Santos atua na Polícia Militar há cinco anos e diz que já enfrentou diversas situações de tensão - Imagem: José Almir Portela / Nova News

Natural de Eldorado, ela atua há cinco anos na Polícia Militar e afirma que neste período já vivenciou diversas situações nas ruas da Cidade Sorriso, inclusive ocorrências de risco, como atendimentos a assaltos, por exemplo.

A soldado explica que no militarismo não existe diferenciação entre homem e mulher. “Seja qual for a ocorrência, a gente vai. A farda é padrão e o serviço na Polícia Militar também é padrão. Na corporação somos todos iguais. Trabalhamos em equipe.”, afirma.

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Policial defende que a mulher deve conquistar seu espaço em todos os segmentos - Imagem: José Almir Portela / Nova News

Geovana conta ao site que desde criança admira a polícia. “Eu tinha esse objetivo de ser militar, então estudei, me preparei e consegui passar em primeiro lugar aqui para a região de Nova Andradina. O apoio da minha família foi muito importante neste processo e é fundamental até hoje. Eles dizem que têm orgulho de mim e isso é muito bom”, comemora.

A policial diz que em certas situações, a sensibilidade feminina ajuda no desempenho das funções. “Às vezes temos que atuar com energia, mas em certos casos, a sensibilidade abre portas que a força não consegue abrir. Em situações envolvendo vítimas crianças, por exemplo, é preciso se despir da autoridade e saber acolher”, pontua.

Nas palavras dela, embora, de uma forma geral, o policial não seja muito valorizado pela sociedade, ser militar é motivo de grande satisfação. “Sou feliz desempenhando minhas funções e procuro sempre estudar e me aperfeiçoar cada vez mais. Tenho que estar preparada para todas as situações que possa enfrentar”, explicou.

Para as mulheres, Geovana deixa o recado: “Se o seu desejo é ser policial vá em frente, lute, conquiste seu espaço, pois onde há esforço há vitória”, conclui.