Publicado em 16/07/2020 às 14:56, Atualizado em 16/07/2020 às 19:11

Vereadores querem distribuir medicamento sem evidência científica, em Nova Andradina

Uso pode dar falsa sensação de proteção e causar danos à saúde pública, alertam especialistas

José Almir Portela, Redação Nova News
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Foto: Leonardo Kissy/CMNA

Por meio de indicação conjunta, os vereadores Amarelinho e Robertinho Pereira, ambos do MDB, solicitaram que a Prefeitura de Nova Andradina viabilize estudos técnicos com a finalidade de distribuir gratuitamente o medicamento Ivermectina, seguindo todos os protocolos de atendimento.

Na justificativa da indicação, os parlamentares citam um estudo colaborativo liderado pelo Biomedicine Discovery Institute, da Monash University, em Melbourne, na Austrália, com o Instituto Peter Doherty de Infecção e Imunidade, mostrando que a Ivermectina possui atividade antiviral, em teste in vitro, contra o vírus causador da COVID-19 (SARS-CoV-2).

“A Ivermectina é amplamente usada e é vista como uma droga segura. Diante deste fato é que entendemos a necessidade da referida reivindicação”, ressaltaram os vereadores.

Contudo, a comunidade científica é praticamente unânime ao destacar que não há evidências de que a Ivermectina ajude no tratamento ou na prevenção da Covid-19. Além disso, ela ainda pode trazer problemas se usada indiscriminadamente.

A Ivermectina, um remédio usado para piolho e sarna, foi alçada ao posto de nova “bala de prata” contra o coronavírus. Mas, infelizmente, parece que estamos diante de uma nova edição da saga da Cloroquina, hoje contraindicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por órgãos regulatórios nos Estados Unidos para o tratamento da Covid-19, por causa de seu risco cardiovascular e da ineficiência demonstrada nos estudos mais confiáveis publicados até o momento, detalhou a revista Veja em reportagem veiculada nesta quinta-feira, dia 16 de julho.

E a contraindicação do medicamento é justamente pelo fato de sua eficácia ter sido testado apenas in vitro, como justificaram os vereadores. “A questão é que também não temos trabalhos sérios em humanos mostrando benefícios da ivermectina para combater o coronavírus”, alertou Alexandre Cunha, infectologista do Hospital Sírio-Libanês, à Veja.

De acordo com a publicação, o que há de mais confiável no momento é uma pesquisa publicada por cientistas australianos no periódico Antiviral Research, citada pelos parlamentares. Ela indica que o composto consegue inibir a replicação do novo coronavírus in vitro — isto é, em células isoladas no laboratório, não no corpo.

“Só que a dose eficaz nessa investigação ultrapassa entre 50 e 100 vezes o limite considerado seguro para o ser humano”, comentou Leonardo Pereira, farmacêutico e professor da Universidade de São Paulo, também em entrevista à revista.

OMS e Anvisa não recomendam Ivermectina

A própria OMS, Organização Mundial da Saúde, emitiu em junho nota alertando contra o uso da ivermectina enquanto não surgirem resultados de testes em humanos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que regula os regula os medicamentos no Brasil, também se posicionou contra, não recomendando o uso do remédio, assim como a própria MSD, uma das fabricantes do medicamento, contraindicando seu uso para esse fim.