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“A carne mais barata do mercado é a carne negra”, por Maiko Lopes

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Imagem: Arquivo Pessoal

No mês de novembro, celebramos a Consciência Negra, sendo o dia 20 de novembro uma data para relembrar as lutas do movimento negro pelo fim da opressão provocada pela escravidão. Essa data refere-se à morte de Zumbi, símbolo de resistência negra, importante guerreiro e líder do Quilombo dos Palmares, situado no Nordeste do Brasil. O Dia da Consciência Negra, não nos deixa esquecer de que este país é marcado por três séculos de escravatura, foram quase 350 anos de escravidão e tráfico das populações negras do continente africano trazidos para o Brasil, a escravidão acabou formalmente, mas não de maneira palpável.

No dia (12/11) semana da consciência, um homem, identificado apenas como Paulo, ameaçou com uma arma um jovem de 16 anos, obviamente um jovem negro. Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver o momento em que o homem armado ameaça e xinga o adolescente.

Uma mulher, que acompanhava o homem que estava armado, colocou-se à frente do jovem negro e pediu que a arma fosse guardada. Em meio à confusão, estava uma policial militar, uniformizada e armada, que se negou agir diante da situação negligenciando assim a segurança, alegando que não estava em seu horário de trabalho.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, houve "conduta omissa" por parte da agente, vale ressaltar que a omissão é considerada uma transgressão disciplinar grave.

O Regulamento Disciplinar da Polícia Militar diz que os policiais devem "atuar onde estiver, mesmo não estando em serviço, para preservar a ordem pública ou prestar socorro, desde que não exista, naquele momento, força de serviço suficiente".

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que o comportamento omisso registrado em vídeo não condiz com as "expectativas da sociedade e muito menos com as responsabilidades do profissional de segurança pública, que deve agir prontamente sempre que presenciar um crime, estando ou não em serviço" kkkkkkk.

A verdade é que essa policial simplesmente lavou as mãos. Se esse agressor tivesse tomado a atitude de puxar o gatilho, esse jovem provavelmente não estaria aqui entre nós, porque essa agente nada faria para defendê-lo ou para preservar essa vida, essas imagens mostram o “clima” que estamos vivendo não é só por conta do calor, não. É um clima de terra de ninguém.

E o mais grave disso, além de crianças presenciando esse conflito na rua, é ver o posicionamento da policial, uma pessoa que deveria defender a segurança da população, de braços cruzados, assistindo a tudo de camarote. Esse comportamento é consequência dos recorrentes episódios de impunidade ocorridos dentro da corporação. No ano passado (quase) o Brasil inteiro ficou em choque com as imagens de Genivaldo de Jesus Santos, de 38, anos sendo morto dentro de uma “câmara de gás improvisada” em uma das viaturas da PRF (Polícia Rodoviária Federal), pasmem isso é atitude que nem mesmo os NAZISTAS faziam. O que Genivaldo fez para "merecer" isso? Estava andando de moto sem capacete.

Os policiais William Noia, Kleber Freitas e Paulo Rodolpho foram demitidos! Somente esse ano é claro, pois o governo anterior queria na verdade promovê-los. (nada me admira vindo de alguém que riu de 5 mil brasileiros morrendo por dia e ainda imitava pessoas com falta de ar). Diante desse histórico, de conivência e omissão é necessário adotar providências sobre o caso.

Aliás, esse caso me fez (re)lembrar Zumbi dos Palmares, assassinado no dia 20 de novembro de 1965. Zumbi é tido como uma das maiores personalidades representativas da força e luta da população negra em nosso país. Muito pouco se sabe sobre a verdadeira história de Zumbi, inclusive muitos dados são apontados como lendas. No entanto, a representatividade de Zumbi coloca-o como um herói e une a comunidade negra em prol da defesa de seus valores e de sua cultura.

A escravidão negra no Brasil deixou profundas marcas para a sociedade contemporânea. A ambiguidade presente no pós-abolição, onde ao negro não é negado o direito de ser livre, mas lhe são negadas condições dignas de vida, repetindo-se, muitas vezes, lógicas semelhantes ao escravismo, e que persiste nos dias de hoje por meio de práticas racistas, sejam elas explícitas ou não.

É preciso lembrar que a abolição foi lenta, o Brasil foi o último país da América, a abolir a escravidão. Esse fato histórico, aparentemente longínquo, deixou, na verdade, profundas marcas na sociedade brasileira.

Ao falar nisso, devemos falar também sobre justiça climática, que é necessariamente um chamamento para debater raça, já que existe a marca acentuada de um racismo que impõe aos mais vulneráveis, pelo demarcador racial, as piores consequências climáticas. As ciências jurídicas têm um papel crucial, ao lado dos sistemas de justiça, trazer para o debate o que seja de fato justo, a partir da ação climática. Buscando uma verdadeira democracia, que corresponda a uma sociedade sem desigualdades, sem discriminações e valorização de minorias. Disseminar a certeza de que alguns cidadãos não são piores do que outros somente pela cor de sua pele ou seu lugar social. Nesse sentido, deve-se debater Justiça climática com recorte e centralidade racial, nomeando como racismo ambiental. Pois, sem levar em consideração o impacto desproporcional sobre certos grupos racializados, corre-se o risco de implementar um “neocolonialismo verde” que desconsidera as realidades e contextos locais.

Até o calor tem classe e tem cor! Você por acaso já se perguntou quem mora perto de um parque para se refrescar? Quantos aparelhos de ar-condicionados você tem em casa? Você trabalha ao ar livre sob o sol ou em lugares fechados sem proteção ao calor? Você mora em casas com isolamento térmico? Você tem transporte de qualidade e refrigerado todos os dias?

A grande questão é: Está calor? Sim. Para todo mundo de forma igual? Não.

Mudaram as aparências, mas a essência das relações sociais não mudou. A atitude do Estado para a situação do negro “liberto” sempre foi omissa: a miséria material, a discriminação e a humilhação vividas pelos afrodescendentes são reduzidas à culpa deles próprios, por meio de uma manobra ideológica que transforma o que é da esfera das relações de poder em algo natural, inerente à raça. A carne mais barata do mercado continua sendo a carne negra, como dizia a grande artista negra Elza Soares (presente). Nesse Dia da Consciência Negra, vamos nos conscientizar... 

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