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“Águas de março”, por Elizeu Gonçalves Muchon

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Elizeu Gonçalves Muchon - Foto: Divulgação

Março nem chegou. Então falemos das águas de janeiro e fevereiro, por derradeiro recorreremos ao Poeta Tom Jobim, emprestando sua enorme inspiração: “são as águas de março fechando o verão, é promessa de vida no teu coração”.

Oxalá as águas de março seja “promessa de vida no teu coração”. As de janeiro e fevereiro tem espalhado duas coisas.

A primeira é a esperança, o reflorescer dos campos, a possibilidade de lançar as sementes e o crescimento do verde, pondo fim nas terras desnudas. Logo, promessa de vida no teu coração.

A segunda é a inundação imensurável das cidades, não por culpa ou conta das chuvas, mas pela falta de planejamento do ser humano, que abafou os rios, asfaltou as ruas, ladrilhou os quintais, cortou as árvores, pinchou lixo ao relento e subestimou a força da natureza.

A temporada das águas que promove a alegria e a riqueza nos campos, tem, no entanto, transformado as cidades em ambientes de pânico. Caminhões são engolidos por crateras e carros levados pelas enxurradas, como brinquedos desgovernados.

Prejuízos financeiros, vidas ceifadas e nada de bonança depois das tempestades. É o cúmulo da estupidez humana, o extremo da má gestão, a falta de projetos urbanista com visão de logo prazo, levando, obviamente em conta o crescimento indubitável.

Um cenário distante dos versos do Poeta, que se inspira nas águas do fim do verão para descrever a beleza, o cotidiano, ainda que com pitadas de melancolia, movendo os sentimentos e descrevendo com larga precisão e profunda sensibilidade os mistérios da natureza.

Todavia, lá pelas tantas da narrativa, meio que prevendo as catástrofes, o Poeta cravou: “ é o projeto da casa, é o corpo na cama, é o carro enguiçado, é a lama, é a lama.

Por fim, nem sei se teremos chuva em março, no fim do verão, a natureza está tão mexida que as datas deixaram de ser referência para os fatores climáticos, mas é perfeitamente possível saber que passou a hora de respeitamos os limites da natureza.

Elizeu Gonçalves Muchon – Professor e Jornalista

elizeumuchon@hotmail.com

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