Publicado em 10/09/2020 às 14:01, Atualizado em 10/09/2020 às 18:07

Espero que nada volte ao “normal”, por Maria Fernanda Andrade

Maria Fernanda Andrade,
Cb image default
Foto: Arquivo Pessoal

É um fato que a desigualdade é o molde da sociedade brasileira, a classe social, gênero, faixa etária e cor de pele sempre foram os medidores de privilégios. Todos esses moldes reforçam o etnocídio. Em meio a pandemia do Covid-19, um vírus que para não matar, exige isolamento e cuidados, ou seja, exige condições de saneamento, economia e alimentação.

Quem são as pessoas que podem ficar em isolamento? Quem são as pessoas que têm condições básicas de se manter saudável sem trabalhar? Para quem são destinadas as recomendações do Ministério da Saúde? Quem é o Ministério da “saúde”?

A teoria Darwinista aponta que não é o mais forte que sobrevive, mas sim o que melhor se adapta, entretanto, como podem os grupos étnico raciais se adaptarem em uma estrutura social que tem como objetivo lhes tirar a vida?

Como sobrevivem as comunidades indígenas, que se concentram nos solos sul-matogrossenses? Solos os quais se adaptam ao clima da região, chamando assim a atenção dos latifundiários, que invadem as comunidades, ultrapassando não só o direito de território indígena como também o da dignidade humana.

Esse tipo de extermínio que vem sendo feito, não mata só aqueles que morrem, mata também a esperança e a perspectiva de futuro desse povo que continua sobrevivendo à mercê da sorte, sem nenhuma real proteção Estatal.

A cidade de Dourados no Mato Grosso do Sul, conta com uma parcela significativa de indígenas, porém, nunca se viu um deles frequentando shoppings, restaurantes e mercados. Essa é a marca de representatividade, a falta do direito de ir e vir.

Todas essas discrepâncias sociais andam de mãos dadas com a eugenia, que viabiliza a padronização dos corpos, logo, a unificação étnica de pessoas brancas, dando lugar a um universo uno, branco, sem cor, sem diversidade, sem vida. Já que muitas foram tiradas.

Qual seria então a diferença da realidade vivida com um sistema Nazifascista?

Uma vez que vivemos uma sociedade sistematizada no apagamento de pessoas. Só se apaga o que (a quem) tem cor. É isso o que querem. Os governos estão achando que se morressem todas as pessoas que representam um tipo de “custo” para a economia, seria ótimo.

Enquanto o poder legislativo mantiver uma visão minuciosa e vantajosa para os grandes empresários (elite brasileira), mais desfocado estará o olhar para as extremidades marginalizadas (classe trabalhadora).

Não é possível legislar, governar, ou decidir alguma coisa sem que se conheça. Como podem os homens da lei executarem leis sob condições que eles não conhecem?

O “pandemônio” não vai ser curado pelo número de respiradores de um hospital público, mas sim, pela informação e amparo disponibilizado. “Gente cura a gente”, é pela união.

“Tomara que não voltemos à normalidade, pois, se voltarmos, é porque não valeu nada a morte de milhares de pessoas no mundo inteiro. As mudanças já estão em gestação. Não faz sentido que, para trabalhar, uma mulher tenha de deixar os seus filhos com outra pessoa. Não podemos voltar àquele ritmo, ligar todos os carros, todas as máquinas ao mesmo tempo. Seria como se converter ao negacionismo, aceitar que a Terra é plana e que devemos seguir nos devorando. Aí, sim, teremos provado que a humanidade é uma mentira.” trecho do livro “O amanhã não está à venda” escrito por Ailton Krenak, uma das maiores lideranças do movimento indígena no Brasil. Precisamos ser agentes vivos de mudança ao invés de organismos completamente mortos que não se transformam e nem aprendem, diante de nada, nem dos piores acontecimentos.

Vive-se uma pandemia, no entanto, para os homens que vestem pele branca e ternos pretos, realiza-se um projeto desenvolvimentista.

Maria Fernanda Andrade

Acadêmica do Quarto Semestre do Curso de Direito da UFGD