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“O lugar está deficiente”, por Odair José de Melo

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Foto: Arquivo Pessoal

Muitas vezes escutei que as pessoas deficientes precisam de mais acessibilidade para ter plena liberdade de ir e vir..., porém a cada dia percebo que isso é algo que foi plantado em nossos pensamentos. Buscamos acessibilidade porque espelham em nós a deficiência como se fôssemos diferentes dos outros, mas na verdade o que é deficiente é o ambiente à nossa volta.

Quando saio de casa e volto sem precisar de auxílio de nada nem de ninguém, percebo que não sou deficiente, entretanto, quando vou a um supermercado e não encontro um lugar para estacionar ou uma rampa para adentrar o local, compreendo que estão transferindo a deficiência daquele ambiente para mim. Quem é realmente o deficiente, então? Quando temos igualdades de oportunidades com a devida acessibilidade e com eficiência não encontramos deficientes, contudo quando não igualamos as oportunidades, geramos um local deficiente.

O que a Lei proporciona na sua criação não é ordem de cumprimento, mas a lembrança de garantia daquilo que não somos conhecedores e através dela passamos a entender. Bom seria, porém, se todos pudessem entender a função de cada Lei criada para cada seguimento ou indivíduo, porque a igualdade seria compreendida com maior celeridade entre a sociedade e não a desigualdade que vemos tanto na informação quanto na interpretação.

Quem não convive com a diversidade, não entende o que é necessário para equilibrar o ir e vir acessível. Faz-se necessário que o mundo venha ampliar a educação formal desde a infância, da mesma forma que ensinamos que uma criança não pode atravessar a rua correndo sem olhar, é preciso mostrar que algumas crianças não podem subir um meio-fio sem que este esteja rebaixado, pois afinal ao apresentar um olhar cuidadoso para os pequeninos é que começaremos a agregar a essência da maturidade igualitária a longo prazo.

O dia que o mundo for apresentado às crianças como um mundo cheio de deficiência e não que as pessoas são deficientes, possivelmente avançaremos na verdadeira acessibilidade e inclusão. O olhar cuidadoso proporcionará especialista e críticos do bom senso, e quem sabe acabaremos com a deficiência dos lugares e o ser humano não precisará ser chamado de deficiente.

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