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“O tempo não para”, por Elizeu Gonçalves Muchon

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Foto: Divulgação

Dizem que o ano (no Brasil), só começa depois do carnaval.

A propósito, vale lembrar que os dias do ano tem seus significados e conforme o peso deste significado, inclui-se um feriado comemorativo.

Tem dia para tudo quanto é gosto: dia da fraternidade, dia do Mercosul, dia da fotografia, dia dos Santos, dia do controle da poluição por agrotóxicos, etc..

Não é à toa que certa vez nosso glorioso e imortal Carlos Drummont de Andrade escreveu: “Cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta. 10 meses de Natal e 02 meses de ano vulgarmente dito”. Extraído do livro – Cadeira de Balanço C.D.A.

Claro que Drummont usou de seu incontestável talento, com um toque de humor refinado para demonstrar a vocação do brasileiro para as festa e comemorações.

Com reparos aqui ou acolá, tem sido assim, ao longo de séculos, décadas, anos e dias. Mas de repente, surge um vírus Chinês que leva as autoridades a exigirem: quarentena, isolamento social e outros procedimentos restritivos. Não se pode sair para trabalhar, muito menos para festas.

Como se sabe, a ampulheta do tempo não para. Mas as pessoas estão paradas, ou relativamente paradas. É como uma esteira em movimento e você com os pés prostrado sem acompanhar os movimentos da esteira.

É quase como disse Raul Seixas: “No dia em que todas as pessoas do Planeta inteiro resolveram que ninguém ia sair de casa. – O empregado não saiu pro seu trabalho, pois sabia que o patrão não tava lá”......

Quase, porque no cenário atual, não é nada romântico, poético ou belo. No cenário atual, a ampulheta do tempo não para, os boletos não param de chegar. As contas amontoam e a solução para os perrengues de cada um, não aparece ninguém para resolver.

Exigir isolamento social, segundo orientação das autoridades, é uma maneira de salvar vidas e evitar que muita gente se contamine ao mesmo tempo, o que implicaria em falta de vagas nos hospitais. Correto. Mas é preciso lembrar que milhões de brasileiros não tem água potável para beber, muitos, sequer tem água, tratada ou não. Mais da metade das residências não tem coleta de esgoto. Pessoas se amontoam em pequenos barracos, razão pela qual já tem gente defendendo a liberação geral, o fim do isolamento e seja o que Deus quiser, pois as autoridades não conseguem resolver a grave situação.

Para se ter uma ideia, por conta da Pandemia 70% das cirurgias de câncer foram adiadas, 50 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados, segundo a Sociedade de Patologia e Cirurgias Oncológicas.

Milhares de pessoas tiveram diversos tipos de tratamentos interrompidos, pelo fato de que os esforços do sistema de saúde estão unicamente concentrados no combate ao COVID – 19.

A fila de cirurgias eletivas que já era quilométrica, agora é ainda maior. Pior que isso é que muitos casos eletivos já são urgência/emergências.

É nesse tempo de provações que as vísceras dos três Poderes estão expostas. Quando deviam estar unidos em torno de um planejamento de ações em busca de minimizar os problemas da pandemia e ao mesmo tempo os problemas econômicos, as autoridades dos três Poderes, brigam em torno dos cadáveres que se amontoam, ou em torno das dívidas dos cidadãos desempregados que clamam por uma liderança, que possa apaziguar o País e agir como um bálsamo sobre o sofrimento do povo.

Tudo é uma questão de tempo. Mas quanto tempo será necessário para as coisas melhorarem?

Elizeu Gonçalves Muchon – Professor e Jornalista

[email protected]

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