Publicado em 28/10/2020 às 14:38, Atualizado em 28/10/2020 às 18:40

“Será que a privatização do SUS vai te afetar?” por Rafael Fernandes Rodrigues

Rafael Fernandes Rodrigues,
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Foto: Arquivo

Hoje, dia 28 de outubro, se já não bastasse a incerteza da pandemia, passamos por mais uma emoção por conta do atual Presidente (ser brasileiro é teste pra cardíaco).

O Presidente Jair Messias Bolsonaro assina no dia de hoje uma autorização de estudo para privatizar Unidades Básicas de Saúde (UBS) – postos de saúde ligados ao SUS.

Como tem sido uma prática do nosso presidente, todos os decretos publicados dias depois passam por inúmeras correções e remendos até fechar em um texto final mais “lógico”. Essa pratica do Presidente mais parece uma brincadeira de fazer uma cortina de fumaça para desviar a atenção de outros assuntos.

O SUS está presente até mesmo em nossa Constituição Federal. Em seu artigo 196 consta que:

“Art. 196 - A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”

Além do SUS estar presente em nossa Constituição no que mais ele é importante? Se eu apenas utilizar plano de saúde, o SUS não me acolhe em nada, correto? Errado. O SUS não apenas funciona como pronto-atendimento, ele oferece inúmeros serviços à população de até mesmo de forma indireta.

A água tratada que você recebe em sua casa, é fruto de um programa do SUS de monitoramento de qualidade para consumo. O resgate de médicos brigadistas presentes em locais públicos como metrôs, eventos (particulares ou não), eventos esportivos e shows são todos oferecidos pelo SUS. A facilidade de acesso ao preservativo foi uma iniciativa do SUS, distribuir preservativos em inúmeros locais do país ajudou a derrubar o tabu que era o seu uso. As primeiras vacinas que a criança precisa tomar são todas oferecidas pelo SUS e até mesmo o descarte de seringas, agulhas e gazes são cortesias adivinha de quem? Do SUS!

Você sabia que existiu um órgão dentro do SUS nos anos de 1983 chamado PAISM que significa Programa de Atenção Integral e Saúde das Mulheres?

O PAISM foi um programa modelo do SUS, construído com intensa colaboração de feministas sanitaristas. Embora sua implantação fosse apenas a lugares favoráveis politicamente (grandes centros) sua importância se deu ao fato do diálogo de especialistas ofertadas à população sobre métodos anticonceptivos, diálogos sobre sexualidade desde a adolescência até a idade geriátrica. Aqui faço uma ressalva de cunho particular: minha avó foi usuária do PAISM!

Estamos falando de 1983, uma época em que falar sobre sexualidade era um tabu. Sexualidade da mulher então? Conversa de safadeza, conversa que mulheres casadas e mães de família não poderiam se dar ao direito de ter informação sobre o próprio corpo. E foi o SUS que ofereceu este espaço.

O SUS foi até reconhecido pela ONU como uma conquista democrática do nosso País.

O SUS possui um programa modelo de tratamento de HIV reconhecido por todo o mundo e copiado por diversos outros países.

Há desvio de verba no SUS? Disso eu não tenho dúvidas. Se o repasse das verbas públicas fosse inteiramente utilizado pelo SUS, a automação, telemedicina e digitalização de serviços estariam muito mais avançados. Não faltariam cadeiras, não faltariam macas, não haveria médicos que destratam os pacientes...

O SUS possui problemas. Problemas causados pelo Estado. O Presidente delegar a solução para a iniciativa privada soa um pouco incoerente, pois quem deveria solucionar o problema era o causador, no caso, ele.

Mas como disse no inicio deste texto, é só mais uma polêmica que o Presidente se utiliza para desviar de assuntos mais ponderados como a corrupção de seu mandato e sua família.

Recomendo imensamente o programa “Roda Viva” em que o Dr. Dráuzio Varela participa, ali ele resumidamente e da forma mais didática e brilhante, comenta a importância que é o SUS para o Brasil.

Defenda o SUS. Repasse este texto para todos que, por falta de informação, acham que não são usuários do Sistema Universal de Saúde apenas por não comparecer em seu local físico.