Publicado em 13/05/2021 às 12:22, Atualizado em 13/05/2021 às 17:01

Maio Amarelo em Nova Andradina: Irresponsabilidade no trânsito destrói famílias e causa sequelas irreversíveis

Graças à imprudência de um condutor embriagado, Letícia ficou sem o marido e Miguel nunca mais terá a presença do pai

Acácio Gomes, Redação Nova News
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Letícia e Miguel ficaram com a família incompleta devido à ausência de Leonel, que foi vítima da irresponsabilidade de um condutor embriagado - Imagem: Acácio Gomes / Nova News

“Família destruída e sequelas irreversíveis, que nem mesmo o tempo será capaz de apagar”. Com essas palavras, Letícia de Freitas Sampaio Gomes, de 31 anos - moradora em Nova Andradina entrevistada pelo Nova News no contexto da campanha Maio Amarelo - descreve seu sentimento diante da irresponsabilidade de um condutor embriagado que, em novembro de 2020, tirou a vida de seu esposo, Leonel Gomes Florindo, de 30 anos, deixando-a viúva e fazendo com que o filho do casal, Miguel de Freitas Sampaio Gomes, de quatro anos, não tenha nunca mais a companhia do pai.

No dia do acidente, Leonel voltava para casa após seu turno de trabalho em um curtume de Nova Andradina quando a motocicleta conduzida por ele foi atingida por um VW Gol, ocupado por um condutor embriagado que invadiu a contramão. O trabalhador ficou gravemente ferido, chegou a ser socorrido por equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e do Corpo de Bombeiros Militar até o Hospital Regional de Nova Andradina, mas não resistiu.

Acidente que resultou na morte de Leonel ocorreu em novembro de 2020 - Imagens: Márcio Rogério / Arquivo / Nova News

“Quando eu recebi a notícia do acidente não sabia da gravidade. Peguei os documentos e fui para o HR. Logo após chegar lá, recebi a informação de que, apesar dos esforços da equipe, ele não havia resistido. Naquela hora fiquei em estado de choque. Meu mundo desabou”, revela Letícia.

Ela, que é natural do Paraná, contou ao Nova News que conheceu Leonel naquele estado em 2012. “Ele era de São Paulo. Nos conhecemos no Paraná, começamos namorar à distância, depois veio o noivado e, em 2014, o casamento. Há três anos nos mudamos para Nova Andradina e ele entrou no curtume. Tínhamos sonhos, planos e jamais eu poderia imaginar que ele seria tirado de mim desta maneira”, afirma emocionada.

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Painel fotográfico providenciado por Letícia é uma forma de eternizar momentos felizes vividos ao lado do esposo - Imagem: Acácio Gomes / Nova News 

Com relação ao filho, Letícia explica que ele, aos poucos, vai compreendendo o que aconteceu. “Não omiti a verdade do Miguel em momento nenhum. Ele participou do velório e expliquei que o pai dele virou uma estrelinha no céu, mas naquela hora ele não entendeu bem. Ele achava que o pai iria chegar em casa a qualquer momento. Agora, aos poucos, ele vai percebendo que o Leonel não vai chegar nunca mais e que saudade tende a aumentar”, conta ela.

Sobre o condutor embriagado que tirou a vida de seu esposo, Letícia afirma que, como cristã, católica, não deseja o seu mal, mas que, infelizmente, ainda não é capaz de perdoá-lo. “Ao ingerir bebida alcoólica e pegar no volante ele assumiu o risco que provocar essa tragédia. A dor causada em mim e no meu filho é muito grande para que eu possa falar em perdão. Até hoje, seis meses após o fato, nem o autor nem sua família entraram em contato conosco, nem mesmo uma ligação foi feita para saber como estamos, se estamos precisando de alguma coisa”, desabafou.

Letícia conta que até o momento, não conseguiu receber nenhum tipo de compensação pelos danos causados, seja o seguro de Danos Pessoais por Veículos Automotores Terrestres (DPVAT) ou algum tipo de indenização da parte da vítima. 

“Estou desempregada e moro em Nova Andradina em uma casa alugada junto com meus pais que, por sinal, me ajudam muito. Se não fossem eles, eu e meu filho poderíamos estar passando necessidades. O Leonel era o provedor da nossa família e quando ele foi tirado de nós, além dos danos emocionais, que são incalculáveis, perdemos também nosso sustento”, detalha ela, ao afirmar que luta na Justiça pelas devidas reparações cabíveis ao caso bem como por uma pensão para Miguel.

Sobre a questão de o condutor estar respondendo em liberdade, Letícia acredita que as leis deveriam ser mais severas. “Nosso país tem leis muito brandas e uma burocracia muito difícil de ser vencida. O culpado pela tragédia rapidamente teve seus direitos respeitados e foi colocado em liberdade. Já quanto aos direitos meus e do meu filho, seis meses se passaram e até agora não tivemos nenhum tipo resposta. Isso revolta ainda mais”, explica.

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Letícia diz que o que mais queria é ter o esposo de volta, mas como isso não é possível, ele pretende lutar por justiça - Imagem: Acácio Gomes / Nova News 

Letícia aproveita a oportunidade para pedir mais consciência aos condutores para que histórias tristes como a dela não se repitam. “Tenham mais respeito e atenção no trânsito em todos os sentidos, mas, de forma especial no que se refere ao uso de bebidas alcoólicas. Alguns minutos de irresponsabilidade podem causar marcas profundas na vida de uma família para sempre”, finaliza ela ao agradecer o apoio e orações de todos os familiares e amigos.

Outras mortes recentes no trânsito de Nova Andradina

Um homem, identificado como Walder José Custódio, de 28 anos, morreu após sofrer um acidente de moto do Assentamento Santa Olga, na noite de 05/04.

Ele estaria conduzindo uma motocicleta Honda CG 125, quando, por motivos a serem apurados, acabou colidindo em uma cerca na entrada principal do assentamento e morreu no local.

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Walder José Custódio - Imagens: Arquivo / Nova News e Redes Sociais

O condutor de um Fiat Uno, identificado como José Eduardo da Rosa, de 61 anos, conhecido como “Pechincha”, morreu preso às ferragens em um grave acidente de trânsito ocorrido em 26/04.

A colisão, envolvendo um caminhão, ocorreu na MS-134, próximo ao Bairro Frutal, no trecho entre Nova Andradina e o Distrito de Nova Casa Verde.

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Pechincha - Imagens: Márcio Rogério / Nova News e Cedida pela Família

O motociclista Denivaldo Moreira de Oliveira, de 54 anos, mais conhecido como “Grilo” morreu após atingir uma placa e um poste na região da unidade do JBS em Nova Andradina um dia antes do acidente com Pechincha, em 25/04.

De acordo com o apurado pelo Nova News, a vítima, teria saído da região do Assentamento Santa Olga sentido a Nova Andradina, quando na região do trevo que dá acesso ao Frigorífico JBS, na BR-376, acabou perdendo o controle direcional, atingiu uma placa e em seguida um poste.

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Grilo - Imagens: Redes Sociais e Arquivo / Nova News

Um homem, de 38 anos, identificado como João Roberto Torres, que sofreu um acidente de moto na região do Portal do Parque na noite de 04/05, morreu no Hospital Regional (HR) Francisco Dantas Maniçoba, em Nova Andradina no dia 06/05.

No dia do acidente, o condutor da Honda CB 300, com placa de Ivinhema, seguia pelo prolongamento da Avenida Antônio Joaquim de Moura Andrade, quando veio a sofrer uma queda.

Ele teve diversos ferimentos e foi encaminhado pelo Corpo de Bombeiros Militar ao HR, onde sofreu agravo em seu quadro clínico e faleceu. O corpo foi sepultado em Ivinhema, onde mora a família da vítima.

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João Roberto Torres - Imagem: Márcio Rogério / Nova News

O ciclista que se envolveu em uma colisão com um ônibus no dia 08/05, em Nova Andradina, morreu no Hospital da Vida da cidade de Dourados. Ele foi identificado como Sivaldo Carvalho, de 31 anos.

De acordo com o apurado pelo Nova News, na ocasião do acidente o ônibus seguia pela Avenida Rio Brilhante, quando por circunstâncias ainda a serem apuradas, ocorreu a colisão com o ciclista.

Com o choque, um dos para-brisas do coletivo chegou a ser quebrado. O ciclista, único ferido no acidente, sofreu dois cortes na região da cabeça e foi encaminhado pelo Corpo de Bombeiros ao HR Francisco Dantas Maniçoba.

Posteriormente ele foi encaminhado ao Hospital da Vida, na cidade de Dourados, onde sofreu agravo em seu quadro de saúde e entrou em óbito na madrugada do dia 10/05. 

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Acidente com Sivaldo Carvalho - Imagem: Nova News

Mais acidentes em Nova Andradina

Dados obtidos nos últimos dias pelo Nova News junto à Polícia Militar de Nova Andradina mostram que de janeiro até o início de maio haviam sido registrados 100 acidentes de trânsito, sendo 57 ocorrências com vítimas feridas, 01 com vítima em óbito e 42 sem vítimas.

No caso das ocorrências com vítimas, como geralmente os acidentes envolvem mais de um indivíduo, o total de pessoas feridas ou que necessitaram de algum tipo de atendimento havia atingido a marca de 68 registros.

Os números mostram que em janeiro ocorreram 26 acidentes, em fevereiro 20, em março 27, em abril 20 e em maio, até a data do levantamento, haviam ocorrido 07 casos.

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Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar e ocorrência de trânsito no centro de Nova Andradina - Imagem: Acácio Gomes / Arquivo

Vale destacar que estes são os acidentes em que Polícia Militar foi acionada, seja pelos envolvidos ou por terceiros. Levando em conta casos em que os condutores entram em acordo entre si ou por algum motivo, as autoridades não são acionadas, o índice real de ocorrências de trânsito pode ser maior.

Infrações de trânsito em Nova Andradina

Com relação às infrações de trânsito, entre os meses de janeiro e abril deste ano, em Nova Andradina, a Polícia Militar registrou 1.343 atos de desrespeito ao Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o que resultou em 89 veículos removidos e 26 documentos apreendidos.

Maio Amarelo*

O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) deu início no dia 03/05 à campanha Maio Amarelo. Com o mote “No Trânsito, sua responsabilidade salva vidas”, a iniciativa visa a conscientizar a população sobre os cuidados necessários para que o país consiga reduzir os números de acidentes e de mortes.

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Campanha visa envolver todos os setores da sociedade - Imagem: Divulgação / Contran

Criada em 2014, a campanha é realizada anualmente, sempre durante o mês de maio - em alusão ao 11 de maio de 2011, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs a realização da Década de Ação para a Segurança no Trânsito.

Entidades que integram o Sistema Nacional de Trânsito e demais órgãos de governo, empresas, entidades de classe e organizações da sociedade civil interessadas podem contribuir para reforçar as campanhas educativas e de fiscalização que tratam do papel que cada um tem a desempenhar por um trânsito mais seguro. (*As informações sobre a Campanha Maio Amarelo são da Agência Brasil).

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