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“O mundo vive repleto de paradoxos”, por Elizeu Gonçalves Muchon

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Imagem: Divulgação

No mundo inteiro – inclusive no Brasil – ricos e poderosos, com raríssimas exceções, jogam o pó da humildade na fogueira das vaidades e vivem uma ostentação exacerbada, em detrimento e indiferença a solidão e sofrimento dos que vivem em situação de rua.

Com o frio rigoroso do inverno, milhares de pessoas no mundo todo – inclusive no Brasil – sofrem e até morrem nas calçadas e praças públicas.

Levados por razões não óbvias, essas pessoas se obliteram, desaparecem do mundo sem uma piedade e sem um respeito, como se seres humanas não fossem.

Muitos envelhecem nas ruas, ou chegam nelas já idosos. As causas são diversas: problemas familiares, alívio, busca pela paz, falta de casa própria, vícios, solidão, desilusões, doenças mentais, pobreza extrema e tantas outras possíveis admoestações.

Por isso digo: o mundo está repleto de paradoxos entre quem vive, quem morre, quem sobrevive e sobretudo entre os que gravitam os extremos sociais que separam a base e o topo da pirâmide.

Com a pandemia as ruas estão mais caladas. Com o agravamento do frio intenso, estão ainda mais ermas, sombrias e silenciosas. O vento frio e cortante uiva e ecoa como um mantra repetitivo, mas com efeito de penumbra, provocando a morte de idosos que sentem na pele o gelo do frio, no estômago a fome carcomendo por meio do suco gástrico a espera de um alimento.

É fácil dizer: somos um país laico, Deus está acima de tudo e de todos. É verdade, Deus está realmente a cima de tudo, Deus é generoso, até acho que ele é brasileiro, entretanto, certas coisas tem que ser executadas pelos humanos vivos.

Claro que não se pode deixar de reconhecer a bondade de voluntários que abraçam a causa da solidariedade. Também não se pode deixar de reconhecer o esforço de “algumas” autoridades que tentam resolver o problema, mais são minorias como beija-flor apagando incêndio. O que é intrigante, todavia, é saber que produzimos alimentos em larga escala. É saber que parte desses alimentos são jogados fora, enquanto muitos não as tem.

A rede social de proteção aos idosos, “quase” não funciona, cuja razão agrava a vida dos menos favorecidos, aguça o sofrimento e amargura a alma daqueles que tem como teto a luz do luar, o brilho das estrelas e o uivado melancólico do vento frio e úmido.

É dever do Estado cuidar dos necessitados, pra isso pagamos impostos. Ninguém é obrigado, (pelo fato de ter dinheiro) ajudar seu semelhante, mas um pouco de solidariedade faz bem a qualquer um.

Enquanto isso, muitos sabem que se lhe prouver a dádiva de Deus seus problemas serão minorados, ao contrário, restam guardar a ação do poder público e a solidariedade dos bondosos.

Elizeu Gonçalves Muchon

[email protected]

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